Terça-feira, 6 de Março de 2007
A evolução da Fé?
Eis um interessante artigo do NY Times sobre a última e mais insidiosa ofensiva da Ciência sobre a Religião: ao invés de a tentar negar, esmiuçá-la e estudá-la como mais um acidente evolucionário.


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publicado por Luis Rainha às 18:38
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Segunda-feira, 5 de Março de 2007
Fátima online & erecções


Quem poderá, nos dias atribulados que atravessamos, passar sem uma garganta em cera? E como dispensar um prático intestino igualmente ceroso? Aproximem-se, fanáticos da anatomia fetichista, entusiastas do do it yourself clínico, alucinados das intervenções divinas! Na gloriosa e abençoada Fátima Shop, há tudo isto e muito mais: orelhas (convenientemente catalogadas consoante o lado de implantação) mãos, braços, pernas, crianças inteiras, rins... é todo um inventário de bric-a-brac corporal pronto a derreter.
Pois. É que esta sinistra tralha destina-se apenas e tão somente a ser queimada no Santuário de Fátima, como oferenda aos deuses, pedido de intercessão da Virgem, ou qualquer maluquice parecida. É assim que a coisa funciona: tem uma maleita teimosa que o anda a deixar desesperado, por exemplo uma irritante otite ou uma persistente obstipação? Siga para Fátima, muna-se do símile em cera correspondente à zona afectada e trate de o queimar, de preferência no meio de abundantes Avé-Marias e entre dois sprints pelo Joelhódromo (também conhecido como Passadeira das Promessas). Espera-se que, passados uns dias, a Senhora Mãe de Deus distraia (mais uma vez) o seu filho de tarefas menores como acabar com a seca em África, e o convença a atender o seu pedido. Garantem-me que o processo já deu provas sem fim.
Mas estes dias modernos trazem comodidade acrescida mesmo à mais santa das tradições. Graças ao inovador serviço “Promessas & Intenções”, pode cuidar de tudo pela Internet! Aquelas simpáticas almas tratarão de despejar no “cremador de cera do Santuário de Fátima, no espaço de 48 horas, as velas ou figuras de cera, em seu nome, pelas Intenções que nelas depositar." Que quer mais? A Nossa Senhora a planar sobre uma azinheira no seu quintal, não?
Entretanto, convém não esquecer os avisos afixados no pio local: se o peregrino tiver muitas promessas a cumprir, não tem necessidade de queimar um número similar de velas; basta que deixe por lá o dinheirito equivalente, que o Além gosta de contas certas, e, ao preço a que anda a estearina, não se pode perder margem de lucro...
Mas voltemos aos membros e segmentos em cera. Depois de consultar o simpático catálogo online, fiquei com uma angústia. Então foram-se esquecer dos problemas que afectam de forma tão marcada o homem contemporâneo? Não sei se por pudor se por fé inabalável nos progressos da indústria farmacêutica, o certo é que o pessoal do Fátima Shop deixou ao abandono a aflição da disfunção eréctil. Se há figurinhas de cera para acelerar curas nos rins, na faringe, nos intestinos, etc, etc, não faz mesmo falta um artigo assim? Vá, aproveitem a ideia, que eu não vos pedirei royalties. Ainda por cima, palpita-me que um tal artigo, por si só e mesmo sem ser queimado, faria milagres dos verdadeiros pela saúde mental de inúmeras beatas, acalmando muita manifestação de histeria galopante.

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publicado por Luis Rainha às 15:18
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Domingo, 18 de Fevereiro de 2007
Fé na Ideologia
 

 

Antony Gormley, Present Time, 1986

Através dos bons ofícios do Nuno Ramos de Almeida, dei por um interessante post do João Galamba em que se cartografam as zonas de coalescência entre ideologia e religião. Interpela-nos assim JG: “Haverá algum tipo de esperança que evite a lógica da promessa religiosa? Ou será que todas as narrativas políticas contém necessariamente um elemento de religiosidade?”
O Nuno tratou de defender a sua dama desta “vil” acusação, tentando separar a crença marxista num mundo melhor que há-de vir da corriqueira alienação religiosa; evocando alguns episódios edificantes sem atacar o princípio da coisa. Mas até o irredutível žižequiano acaba por admitir alguma dúvida: “a intenção de Marx não está despojada de uma vontade romântica e prometeica de salvar a humanidade das grilhetas da opressão.”
O sempre alerta Gibel comenta que “Benjamin, como Landauer, Bloch, Isaac Deustcher ou Lukács, revêem-se todos numa tentativa de construir um messianismo laico, Reino de Deus sem Deus, em que o proletariado surge enquanto classe-messias numa humanidade que se encaminha para o fim da opressão”.
Por seu turno, e ainda no Metablogue, Ezequiel (presumo que não se trate do profeta) recentra o problema: “Todos as narrativas politicas contem, sem duvida, uma teologia ‘futural’, uma relaçao inevitavel com a temporalidade.”
Precisamente. E mais: esse ponto de comunhão com o sentimento religioso nem sequer é exclusivo da postura ideologizante. Claro que um edifício conceptual que tem por objectivo melhorar o mundo não pode deixar de se propagar pela esperança dos crentes; mas outros sectores do pensamento humano partilham este dispositivo. Que, aliás, está longe de ser o verdadeiro centro da maioria das religiões.
Vejamos: na interpretação de S. Agostinho, “Religião” é termo com raízes no verbo ligare. Implicando a re-ligação ao Divino, não uma qualquer urgência de amanhãs gloriosos. Uma religião pode acarretar, na sua liturgia ou na sua praxis, a tal “futuralidade”, a promessa do momento de redenção em que os fiéis são recompensados pela sua lealdade e o  Bem triunfa por fim sobre o Mal. Mas trata-se, ao fim e ao cabo, de um traço humano inevitável e banal: a esperança no destino, a vontade de melhorar a vida, a crença num devir radioso... tudo isto estará presente num monge beneditino, no ateu empedernido, no jogador do Euromilhões ou até no mais iludido adepto do Benfica. Para todos, o dia dos dias está mesmo ao virar da esquina. E não precisam da ajuda de Marx para acalentar mais sonhos.
A exaltação de um tempo que há-de vir, o diferimento da esperança, a crença num preferível estado das coisas que chegará mais depressa se a devoção for grande... estas são atitudes correntes dentro dos redis das religiões ocidentais. Mas, sendo comuns no comportamento religioso, são apenas epifenómenos, sintomas de um quadro mental alargado, nunca a sua essência. Por sinal, religiões há que até as dispensam: a crença na reencarnação, por exemplo, anula muitos desses valores, ao remeter a solução de todas as atribulações para uma outra vida, determinada pelo nosso comportamento nesta e não pela chegada de mais um Messias — e, como estas coisas andam todas ligadas, tende a dar espaço a sistemas sociais articulados sobre castas impermeáveis, pois a presente situação de cada indivíduo é sua culpa, não cabendo à sociedade remediá-la.
Em suma, o Marxismo terá em comum com o Judaísmo (só por exemplo), não um "um elemento de religiosidade" mas apenas o apelo a traços básicos da psique humana: querer fugir ao desespero de um universo sem sentido, sem evolução teleológica, sem promessa de sentido.

Depois, a citação de Herkenhoff que o Gibel trouxe à colação — “O mito ilude o homem e retarda a História. A utopia alimenta o projecto de luta e faz a História” — dá-nos uma boa rota para entender as diferenças operacionais de um e outro sistema, aplicados à vida dos seus crentes. A Religião comporta-se, no nosso tranquilo Ocidente, como uma força inercial que tende a opor-se à mudança que outros ramos do pensamento disseminam; mas não devemos esquecer que talvez o Cristianismo tenha nascido como um movimento revolucionário, de luta contra a globalização romana. Nem que o mundo islâmico hoje se transforma (para pior, parece-me) com a religião na vanguarda. Mas essas são contas para futuro rosário.


PS: nada disto, claro, invalida que a propaganda do PCP ou o discurso de muitos liberais se assemelhem, e muito, às prédicas da Igreja do Reino de Deus: acreditar em coisas inacreditáveis sem requerer amostra de prova sempre teve os seus riscos... o que nos vale é que, segundo o santo mito, o Socialismo é mesmo inevitável.


publicado por Luis Rainha às 12:33
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Quarta-feira, 14 de Fevereiro de 2007
Mormonices
Depois da poderosa clique de malucos convencidos de que a expansão de Israel traria Cristo de volta ao mundo, só faltava mesmo aos EUA um presidente mórmon. Ainda vamos ver a Nasa a montar expedições em busca do planeta Kolob, onde supostamente Deus vive com a sua mulher e respectivas criancinhas.

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publicado por Luis Rainha às 00:12
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