— Paulo Jablochkoff inventou a sua vela carbónica há menos de dois anos. Ele resolveu o problema do arco voltaico de forma engenhosa: dois longos eléctrodos de carvão, separados por uma fina camada de sulfatos de cal e de barita. Finalmente, temos uma vela capaz de durar mais de uma hora: a chispa queima-a uniformemente, graças a um gerador especial que inverte o fluxo eléctrico várias vezes por segundo.
— É tão feia a vossa luz mágica. Meu Pai não me deixa espreitar os ensaios; quer que tudo seja uma surpresa. Mas mesmo daqui vê-se o clarão trémulo, como se ali ardesse um enorme archote, bruxuleante mas tão potente... Olhe como lança sombras fortes sobre toda a Cidadela; e este zunido diabólico que se mete por todo o lado!
— Mas repare, Alteza, como a marcha do Progresso tem estugado o passo: as ruas de Paris nem há quatro meses têm as suas velas Jablochkoff. Neste momento, estão a aprestar-se para iluminar os miasmas nauseabundos de Londres. Lisboa segue por fim a par do mundo civilizado! E vai assistir ao nascer de uma nova era: noites repassadas de claridade, sem esconsos onde as velhas superstições se possam acoitar. É o toque de finados pelo Portugal Medieval, das velhas mirradas à lareira contando histórias de assustar, das mezinhas para tratar doenças comuns, da ignorância sem freio. Amanhã...
— Se a vossa vela milagreira é ainda uma novidade, por que não aguardar mais um pouco? Que a experimentem e melhorem longe daqui. Pode ser que ao menos deixe de cheirar tão mal neste forte! Não vejo o que pode sair de bom de uma máquina assim.