Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2007
Aborto: o dia seguinte
Após o final da II Guerra Mundial, algumas ilhas no Pacífico viram-se de súbito privadas do afluxo de bens modernos que os aviões americanos representavam. Para remediar a carência, resolveram então os nativos fabricar os seus próprios aeródromos no meio da selva, decorados com torres de controlo em bambu, guarnecidos por “técnicos” com auscultadores em madeira; pistas falsas onde em breve os aviões voltariam a aterrar, restaurando a prosperidade e os stocks de chocolates Mars.
Esta mentalidade pré-lógica, com a sua tremenda fé em rituais e palavras poderosas, sempre foi muito popular em Portugal. Exemplo: em 1878, estreou-se a iluminação pública eléctrica no Chiado. Logo surgiram estes versos deliciosos e tão certeiros no DN: “Já tem luz o município. (...) / Vão rasgar-se os boulevards, / Abrir-se asylos, escolas,/ Passeios, largos, bazares;/ Vai haver docas no Tejo, / Museus de estudo e recreio, / De gosos vasto cortejo, / Praças com repuxo ao meio; / Vai começar nova era,/ Vai surgir um tempo novo”. Claro está que poucos meses depois a edilidade descobriu que não conseguia sustentar os candeeiros milagrosos e tratou de os desligar.
Na noite televisiva do referendo, pudemos vislumbrar um cartaz que rezava “Bem-vindos ao século XXI”. Eis o pensamento mágico em todo o seu esplendor: o aborto, mais do que uma causa, era um símbolo do Portugal de Abril. Da terra da igualdade, da camaradagem, das manifs felizes dia sim, dia não. Uma vez legalizado, por certo que traria o Futuro.
Agora, prevê-se um doloroso regresso à realidade. Quando acordarmos e virmos que quase tudo continua na mesma, que o desemprego não sumiu, que o Progresso não aterrou por cá nas asas do sonho. Pior: há menos uma Causa pela qual lutar.
Dos lados de Belém, chegou outra tocante manifestação de fé nas palavras. Cavaco Silva veio agitar as varinhas mágicas da moderação, do equilíbrio e, sobretudo, do “consenso”. Tudo para evitar as incómodas “clivagens”. Como se agora o PS, legitimado pela sua maioria e pelo referendo, tivesse de elaborar leis que não incomodem os sentimentos de quem lutou pelo “não”. Talvez se consiga, ao mesmo tempo, praticar e não praticar abortos legais.


publicado por Luis Rainha às 11:00
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Sexta-feira, 16 de Fevereiro de 2007
Quem não sabe entrevista quem ignora


João Pereira Coutinho, auto-nomeado intelectual conservador e luminária profissional, resolveu entrevistar-se a si mesmo. Talvez por falta de interlocutores à altura, ou talvez porque os restantes candidatos a entrevistados tivessem fugido todos.
A peça é ainda mais cómica do que se poderia imaginar, assim à primeira vista. Recomenda-se a leitura integral. Para vos aguçar o apetite, eis uma amostra:

"– Isso significa que os julgamentos e as condenações continuarão?
– Tu és esperto, João.
– E haveria forma de as evitar?
– Havia, sim: se a lei de 1984 fosse entendida e aplicada como sucede em Espanha. Infelizmente, estivemos na presença de uma campanha de tudo ou nada. Os extremos costumam ser maus conselheiros. Agora, com uma lei que despenaliza até às dez semanas, está aberta a porta para a criminalização depois das dez semanas. Uma pena, quando a aplicação da lei de 1984 teria evitado o cenário."

Para lá da subtil ironia do auto-elogio, regista-se asneira da grossa. Mais uma vez se carrega, por óbvia preguiça intelectual, na gasta tecla da igualdade entre a legislação espanhola e portuguesa. Que é, pura e simplesmente, mentira. Não vou recapitular de novo o que já escrevi sobre o assunto; ficam aqui dois links que talvez deixem claros os pontos em que a lei e a regulamentação dos vizinhos ibéricos diferem.
Mais: a tal "lei de 1984" que nenhum dos participantes nesta entrevista aparentemente leu, nunca "teria evitado o cenário" da criminalização, uma vez que refere claramente um prazo limite para a IVG legal, com a  excepção dos casos de em que é o único meio de evitar a morte ou lesões "irreversíveis" para a mulher!
Confirmem, por favor: "b) Se mostrar indicada para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, e for realizada nas primeiras 12 semanas de gravidez;"
Mas é muito mais fácil correr logo para o teclado e dar eco a boatos do que investigar um pouco, não é?

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publicado por Luis Rainha às 12:39
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Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
O cartaz que não chegou a ser


Cancelado pouco antes do fim da campanha. Quanto a mim, bem; nunca é boa estratégia andar a reboque do adversário. Nem tentar jogar de igual para igual num território comunicacional onde estaremos sempre em desvantagem.

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publicado por Luis Rainha às 19:43
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Segunda-feira, 12 de Fevereiro de 2007
Esta também ainda não tinha lembrado ao diabo
O intragável Luís Filipe Menezes ganhou destacado o prémio "Leitura Imbecil dos Resultados". Estes terão sido, de acordo com as esforçadas meninges do clown laranja, “uma enorme derrota” para José Sócrates e “um cartão amarelo” ao Governo. Este raciocínio estriba-se  na soma dos votos "não" e das abstenções. Resultado: “uma iniciativa política do primeiro-ministro é reprovada por cerca de 80 por cento dos portugueses”.
Quando pensarem que Santana Lopes representa mesmo o mínimo absoluto em termos de qualidade intelectual dos nossos políticos, lembrem-se deste senhor.

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publicado por Luis Rainha às 22:08
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Esta ainda não tinha lembrado ao diabo
Mas lembrou ao bom do Luís Delgado: já que o referendo não conseguiu atrair mais de metade dos recenseados (mas alguém saberá quantos destes estão mesmo ainda vivos?), o lógico é deixar a lei como está. Desde as previsões de chegada iminente da retoma que este Nostradamus de aluguer fazia em prol dos governos PSD, que não se via um caso tão flagrante de cegueira política: "É certo que eles prometeram mexer na lei, mesmo sem a maioria vinculativa, mas é um princípio de pensamento totalitário e de extraordinária falta de respeito pelos portugueses."

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publicado por Luis Rainha às 22:01
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A hipocrisia não se deu por vencida
No rescaldo da vitória do "Sim," o por certo estimável bispo de Viseu anunciou que vai "avançar com a construção de uma fundação para acolher mães e crianças em risco, na diocese de Aveiro, por considerar importante criar condições que salvaguardem a vida das futuras protectoras e dos seus filhos".
Mas será que nunca ninguém disse a este senhor que já havia por aí muito aborto a ser praticado às escondidas, todos os dias? Era mesmo preciso aparecer hoje com este ar de santidade ofendida a preparar-se para a chegada da barbárie e da inclemência? Que nos livrem das boas vontades destes anjos ceguinhos.

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publicado por Luis Rainha às 16:16
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Domingo, 11 de Fevereiro de 2007
Há quem fume charros mesmo sem grande coisa para comemorar
"Venceu a cultura da morte!
11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!"

Mafalda (não me parece que seja "a contestatária")

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publicado por Luis Rainha às 21:30
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Telefonema esquerdista interceptado há minutos
"Ó tempos que não ganhávamos nada!"

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publicado por Luis Rainha às 21:27
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Quem ganhou?
Tod@s nós.

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publicado por Luis Rainha às 21:26
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Sexta-feira, 9 de Fevereiro de 2007
Tantas razões para votar “Sim”
As mulheres que já abortaram e foram denunciadas, investigadas, expostas, humilhadas e julgadas.

As mulheres que vão ainda abortar, com ou sem mudança na lei. Que ao seu sofrimento não venha o mundo acrescentar a culpa dos criminosos.

As mulheres que já abortaram e nunca se reconciliaram por inteiro com essa opção. A mudança da lei, ainda que tardia, vai acabar por reconhecer as suas razões e apaziguar alguma da sua dor.

As mulheres que vão decidir não abortar. Em breve já com plena liberdade para tomarem essa ou outra decisão.

As mulheres que abortam espontaneamente e se vêem maltratadas nos hospitais, insultadas e miradas do alto por médicos e enfermeiros tão pios e virtuosos.

Aqueles que agora descobriram uma inopinada vocação para defensores dos mais indefesos; que não lhes seque a veia humanista logo após dia 11.

Os que julgam dever impor a todos as suas certezas morais. Dia 12, vão acordar num mundo que, espantosamente, sobreviverá mesmo que desprovido da sua iluminada orientação. Talvez lhes faça bem descobrir a justa medida da liberdade dos outros.

Os médicos, enfermeiros, magistrados e polícias que já se gastaram a perseguir as mais débeis das presas. Agora, vão poder dedicar todo o seu tempo e energia às suas benditas vocações.

Os senhores da Igreja, que talvez depois de derrotados pelo voto do seu rebanho se habituem a discutir com serenidade; sem ameaças de excomunhão, sem folhetos obscenos, sem prédicas medievais.

As mulheres que defenderam o “Não”, mesmo não sabendo bem o que fariam se a desdita lhes batesse à porta. Esse dia, a chegar, já poderá ser um pouco menos negro.

Todos os que vão votar “Sim”, mesmo reconhecendo que nunca conseguiriam ter parte num aborto. Por defenderem o direito dos demais às suas próprias opções.

Os maridos, pais, irmãos, filhos, namorados de todas estas mulheres. Que as saibam um pouco menos sós nessa hora terrível.

Todos nós, prontos para viver num país um pouco mais justo, mais fraterno, mais tolerante para com as humanas fraquezas do próximo. Essa é a verdadeira barreira civilizacional que vamos franquear já depois de amanhã.


publicado por Luis Rainha às 23:00
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Quinta-feira, 8 de Fevereiro de 2007
Esta ainda não tinha lembrado ao diabo
«O "Não" é a verdadeira despenalização».
Para o PPM, o resultado que deixará a lei na mesma é que vai resolver tudo. Já li coisas mais estranhas, mas talvez só em livros do Noddy.

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publicado por Luis Rainha às 18:27
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A coisa começa a estar mal parada
Quando até criaturas deste calibre concordam comigo, começo a questionar seriamente as minhas convicções. Se ao menos o pouco recomendável major oferecesse uns frigoríficos aos votantes...

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publicado por Luis Rainha às 15:13
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Domingo, 4 de Fevereiro de 2007
Os falsos argumentos do “Não”

Aprovamos a despenalização e entra “pela janela” a liberalização — na prática, o aborto está já liberalizado há décadas: quem é que não consegue fazer um aborto, ilegal e perigoso, mas “a pedido”, no Portugal de hoje? A despenalização sempre trará alguma ordem: por agora, o aborto é praticado por todo o lado e sem qualquer prazo limite.

Vai aumentar o aborto clandestino — ninguém pode afirmar tal coisa, uma vez que nem sabemos ao certo quantos abortos clandestinos se praticam hoje em dia. Mesmo nos hospitais, confundem-se abortos espontâneos com os provocados, as estatísticas aproximam-se da fantasia. E importar números estrangeiros faz tanto sentido como o argumento provinciano do “já todos aprovaram, só faltamos nós”.

Se o “Sim” ganhar, continuaremos a ver julgamentos: das mulheres que abortem depois das 10 semanas — claro: a partir do momento em que uma mulher tem 70 dias para abortar em segurança e legalidade, não há desculpa para o fazer apenas depois. Com a liberdade, tem de vir responsabilidade.

Nenhum cristão pode votar neste pecado — só em 1869 é que a Igreja deixou de tolerar oficialmente os abortos no primeiro trimestre de gravidez. A postura agora inflexível da Igreja Católica reflecte apenas e tão somente a vontade de alguns senhores de sotaina.

Abortar é liquidar uma vida humana — Um embrião tem vida, obviamente. Há décadas e décadas que ninguém o nega. Mas às 10 semanas não possui ainda a estrutura neurológica onde reside a nossa consciência. É um ser, mas ainda não humano. Niguém aponta um só argumento científico, para lá do “olha que impressionante, está ali o coração”, para contrariar isto.

Não queremos os nossos impostos aplicados na execução de abortos — pura e simplesmente, não é isso que se vai votar no dia 11.

Melhor seria alterar a lei de modo a não haver mais julgamentos e pronto — o cúmulo da hipocrisia. Perpetuar a clandestinidade, o perigo, as humilhações para as mulheres apanhadas. Mas sem escândalos: uma multa discreta e já está.

Já mulher alguma é presa por abortar — hoje. E se amanhã tivermos um talibã da Opus Dei como ministro da Justiça?

As mulheres vão abortar por capricho — o argumento misógino de quem vê no mulherio uma casta de devassas desmioladas, incapazes de sentimentos ou de angústia ante uma decisão deste calibre.

A nossa lei já é igual à espanhola; para quê mudar? — o nosso Código Penal exige ameaça de “grave e duradoura lesão para o corpo ou para a saúde física ou psíquica” da grávida; o artigo espanhol menciona apenas “grave peligro”. Por cá, cada caso é analisado por “comissões técnicas de certificação”, com “três ou cinco médicos como membros efectivos e dois suplentes”, enquanto que em Espanha basta um atestado de um clínico.

Devíamos antes apostar na educação sexual e reprodutiva depois dos lindos discursos na noite da vitória no último referendo, o melhor que os partidários do “Não” conseguiram produzir foi uma secretária de Estado da Educação que afirmou que, se dependesse dela, a educação sexual seria banida das escolas. Agora, temos D. José Policarpo afirmar que esta, para ser “verdadeira”, teria de ser ministrada na “perspectiva da castidade”. Estamos conversados quanto a tal paleio, portanto.



publicado por Luis Rainha às 19:40
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Sexta-feira, 2 de Fevereiro de 2007
"Estava eu tão feliz a brincar no mais íntimo das tuas entranhas"...
...quando me foram arregimentar à má-fila como poster boy de mais uma campanha obscena do "Não".
Para gente de tão elevados princípios, muita desta malta revela uma falta de consideração pelos outros, mesmo que crianças, absolutamente inacreditável. E já repararam que é raro o debate televisivo ou radiofónico que não acaba com um deles a perder as estribeiras?

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publicado por Luis Rainha às 17:27
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Quarta-feira, 31 de Janeiro de 2007
Intervalo para compromissos publicitários


Estou capaz de jurar que há pelo menos um decisor na campanha do PS que deseja ardentemente a vitória do “Não”. Não se lobriga outra explicação para os cartazes que o partido tem vindo a afixar, indo de mal a muito pior. “O aborto é uma vergonha nacional”, clama o último. E então? Se calhar, está todo o país de acordo; mesmo os senhores do “Não” têm vergonha do aborto (e prefeririam mantê-lo escondido, claro). Não seria melhor incitar os votantes a fazer alguma coisa, por exemplo votar “Sim”? Qual será a função de um cartaz que se limita a confirmar as ideias do receptor, sem qualquer desafio ou interpelação?
Os senhores do “Não” aprenderam a lição. Depois de vários cartazes tão fracos quanto demagógicos, lançaram agora esta dramática peça, igualmente demagógica mas muito boa em termos de comunicação. Aqui, há um apelo claro ao voto, com um argumento emocional fortíssimo. Não se vê em que é que a vitória do “Não” iria salvar os milhares de fetos que todos os anos são abortados com ou sem despenalização, mas isso já tem a ver com honestidade, não eficácia.



Por seu lado, o PCP continua a apostar numa “estética” ultrapassada e solipsista: o friso de mulheres de diversas idades, com um cravo por adereço, remete a questão para o movediço território das reivindicações feministas, do “no meu corpo mando eu”. Justamente a última coisa que devia ser lançada para a arena da campanha, quando o adversário anda a apelar aos votantes para salvarem vidas. E "agora sim", porquê? Antes não podia ter sido?



publicado por Luis Rainha às 17:43
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Terça-feira, 30 de Janeiro de 2007
Esta ainda não tinha lembrado ao diabo
O cúmulo da bizarria nesta campanha foi atingido mais cedo do que o esperado. Bagão Félix veio alertar-nos para o facto de o Código Civil vigente reconhecer os "nascituros não concebidos", importante conquista que ficaria em risco com a vitória do "Sim". Falta agora saber como é que as IVGs hoje em dia legais se confrontam com tão ponderoso imbróglio. E aguardar que este paladino dos direitos dos concepturos amplie a sua luta e comece a defender os pobres espermatozóides.

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publicado por Luis Rainha às 22:08
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Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2007
O umbigo do Mundo
Notável. Já saiu um post a propósito do referendo em que um militante de teclado escreve isto: "nós vamos precisar de toda a ajuda que nos puderem dar". Mas não temam: nós, os hércules da blogosfera, os destemidos heróis da flame, os guerreiros do ASCII,  nós vamos, talvez com ajuda da populaça, ganhar isto.

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publicado por Luis Rainha às 19:03
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Intervalo para compromissos publicitários (5)


Há um referencial inegável nesta campanha: António Aleixo. Sucedem-se as riminhas bizarras, sem tino nem sentido. E não seria mais sensato dizer alguma coisa, em vez de fazer perguntas crípticas?


publicado por Luis Rainha às 17:35
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Assim não, professor
Para Marcelo Rebelo de Sousa, o grande problema da pergunta do referendo seria a parte do "a pedido da mulher". Esconder-se-ia aqui, às cavalitas da despenalização, um sinistro intento de liberalizar o aborto. Se calhar, é verdade. Mas, se calhar, já o aborto anda por cá liberalizado há décadas: quem é que não consegue fazer um aborto "a pedido" nos dias que correm, seja num qualquer vão de escada ou em clínicas espanholas? Não ver isto é emigrar para a terra da fantasia: aí, não temos de lidar com a sujidade do aborto, ninguém foge à lei e tudo se passa de acordo com as sebentas de Direito.

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publicado por Luis Rainha às 17:03
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Intervalo para compromissos publicitários (4)


Deste, também por razões egocêntricas, gosto. Mas não consigo deixar de notar, desde o último cartaz do BE, uma certa subida de tom, um inequívoco acréscimo de dramatismo. Só espero que seja mesmo apenas por resposta ao adversário e não sinal de nervoseira...


publicado por Luis Rainha às 13:12
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Intervalo para compromissos publicitários (3)


Para o meu amigo Armando Lopes, segue o prémio para o melhor logotipo de movimento cívico activo neste referendo. De caras.


publicado por Luis Rainha às 12:28
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Quinta-feira, 25 de Janeiro de 2007
Zézinhos e fundamentalismos



Duane Hanson Abortion, 1965

Por razões de prudência táctica, e para não cair em armadilhas do passado, os partidários do “Sim” escolheram nesta campanha não ir em conversetas metafísicas.
Assim, quando das trincheiras do “Não” jorram os esperados gritos de “é uma vida humana”, e lá começam a chover os “zézinhos”, as imagens de ecografias, os folhetos com fetos retalhados, o “Sim” retorque com questões sociais, com a dignidade da mulher e outros temas que não respondem à interpelação central. Afinal, um feto com 10 semanas é mesmo uma Vida Humana ou não?
Responder a esta pergunta não é um passatempo religioso. Aliás, até a Bíblia se contradiz neste tema — incluindo mesmo uma passagem (Hebreus 7:10) onde se declara que Levi já era gente quando ainda brincava nos testículos do pai — seja no Antigo Testamento ou nas palavras de Cristo. E mesmo a Igreja Católica hesitou entre a prudente posição de Aristóteles e de S. Agostinho — só quando a mãe começa a sentir os movimentos do feto é que este se encontra verdadeiramente “animado”— e o radicalismo de inventar por si, sem inspiração superior, a ideia de que a alma desce sobre nós no segundo inicial da concepção. Nos dias do bispo Teodoro de Tarso, o sexo oral era crime merecedor de penitência bem mais dura que o aborto. Só no fim do século XIX deixou de existir a distinção entre  "fetus animatus" e "fetus inanimatus", passando a Igreja a condenar todos os abortos, não apenas aqueles realizados após o primeiro trimestre de gravidez!
Agora, estes séculos de hesitação teológica esfumaram-se das cabeças dos adoradores de simplicidades. “É uma vida humana” e pronto. Só não se entende porque é que estes fundamentalistas não exigem penas correspondentes à prática de homicídios para todas as mulheres que abortem. Como podem falar de despenalização para assassinas?
Adiante. Outra coisa estranha é o facto de quase todos aceitarem a inexistência prolongada de actividade cerebral como marca comprovada do fim da vida humana mas parecerem incapazes de usar padrão simétrico para marcar o seu início. Aqui, a Ciência, desapaixonada e isenta, dá-nos respostas concretas. Se um embrião ainda não possui sistema nervoso central activo, estando o seu córtex desligado do tálamo, não é um ser humano, não possui ainda a estrutura biológica onde se aloja a nossa consciência, a nossa alma. Poderá sê-lo “em potência” ou “aos olhos de Deus”; mas é tão senciente quanto um feto anencefálico. E que médico levaria até ao fim uma gravidez dessas?
A bem da verdade, se eu acreditasse que um feto com 10 semanas é já uma pessoa, nunca conseguiria votar “Sim”. Mas todos os factos apontam na direcção oposta. Por muitos “zézinhos” que me esfreguem na cara entre rezas e ameaças de excomunhão.

(Publicado no excelente 5 dias)

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publicado por Luis Rainha às 12:07
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Terça-feira, 23 de Janeiro de 2007
Intervalo para compromissos publicitários (2)


Será que ninguém repara que este cartaz não fala do referendo em curso? Nesta pícara riminha de pé-quebrado, questiona-se sim uma posição genérica face ao aborto, sendo ele legal ou não. Só não entendo porque não se deram à maçada de afixar a coisa antes, para dissuadir os milhares que já se sujeitavam anualmente a abortos clandestinos.
Pode estar muita coisa em jogo neste referendo, mas isto é claro: hoje em dia, o aborto já é "a pedido". Só não aborta quem não quer.



publicado por Luis Rainha às 18:18
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Guerra de umbigos


O debate a propósito do aborto que hoje inflama a blogosfera não tem qualquer espécie de relevância; a não ser para a vaidade dos intervenientes. Usam-se catapultas argumentativas apenas para responder aos tiros de um fulano qualquer do outro lado das barricadas. Trocam-se acusações de fundamentalismo, estultice e incapacidade de ver o óbvio. Depois, vem a inevitável enumeração das causas que levarão cada um dos preclaros opinadores a votar de uma ou outra forma, como se tal interessasse a alguém para lá dos próprios.
No vértice mais visível deste exibicionismo militante, temos o Professor Marcelo, que criou um site para poder reivindicar a responsabilidade pela existência do presente referendo. Palpita-me que quem frequenta os blogues colectivos de apoio a estas antagónicas causas só o faz para visitar mais um pequeno espectáculo de circo, na esperança de vislumbrar algumas golfadas de sangue a escorrer das arenas digitais. Custa-me imaginar que os fregueses da blogosfera se deixem persuadir por mais uma tirada em registo agit-prop do Daniel Oliveira ou por mais um grito de alma do Rui Castro. E não imagino um cibernauta com mais de 12 anos a adoptar como seu um repositório de razões alheias, ainda para mais quando são todas clonadas umas das outras.
Cá fora, no mundo real, a conversa é outra. Aí sim, vogam multidões de gentes indecisas, com escassa informação e necessitadas de esclarecimentos. Porque não emigram estes incansáveis militantes de teclado para lá, para onde faz sempre falta quem cole mais um cartaz, quem se empenhe no porta-a-porta, na persuasão dos votantes que ainda se prestem a ser persuadidos? Ou, pelo menos, porque não se contentam com modestos contributos para os blogues dos movimentos “a sério”?
Ah, pois. Assim, a coisa não teria o mesmo glamour, nem nomes em destaque nos cabeçalhos, não é?

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publicado por Luis Rainha às 16:24
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Segunda-feira, 22 de Janeiro de 2007
Intervalo para compromissos publicitários (1)


Cartaz propositadamente ao lado do que se vai votar no dia 11. Já nem vale a pena retorquir com as despesas causadas pelas vítimas de abortos mal feitos ou auto-induzidos. Mas consigo imaginar toda uma linha de cartazes similares: “Os meus impostos a pagar curas de desintoxicação?” , “Andavas sem cinto? Cura-te à tua conta”, “Não financio vaidades: bandas gástricas fora do SNS”, etc, etc, etc.



publicado por Luis Rainha às 18:15
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Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
Rio e os "nãos" do "sim"
A quase-notícia da semana é o desatino do vereador portista Teixeira Lopes ao imaginar-se a partilhar o movimento “Voto Sim” com Rui Rio. O bloquista é pouco dado às subtilezas da diplomacia. E cedeu ao impulso de meter a proverbial pata na poça.
O uso despudorado de recursos camarários para se elogiar e fustigar adversários, aquela tirada sinistra do “sempre que ouço falar em cultura saco da calculadora” e outros tiques de tiranete sul-americano, tudo conspira para fazer de Rio uma personagem pouco recomendável. Mas não se deve fazer de homens assim vítimas: nada compõe melhor a imagem de um populista do que um cheirinho a perseguição injusta.


publicado por Luis Rainha às 17:55
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