Primeiro foi o esquálido
“Tideland” e a correspondente desilusão com Terry Gilliam, cuja carreira parece cada vez mais azarada. Depois, foi a vez de um outro realizador cujo trabalho até à data me tinha entusiasmado:
Darren Aronofsky, autor dos mui recomendáveis
“Pi” e
“Requiem for a Dream”.Indo depressa ao assunto,
“The Fountain”, o seu filme de 2006, acabado após 6 anos de uma gestação complexa que envolveu o abandono do projecto por parte de Brad Pitt e outras vicissitudes, é uma porcaria.
A coisa anda em redor de um cientista, o dr. Tom Creo (Hugh Jackman), que busca afanosamente uma cura para o cancro que vai corroendo o cérebro da sua bela mulher (na realidade, a cônjuge de Aronofsky, Rachel Weisz). Esta entretém-se a escrever uma aventura histórica que envolve exploradores espanhóis no Novo Mundo em busca da Árvore da Vida; o capitão destes, claro está, é o mesmíssimo Tom, agora “Tomás”, a que Hugh Jackman também dá o corpo e a cara de pau.
Mas o caldo metafísico entorna-se de vez quando nos aparece o bom do Tomas/ Dr. Tom/ Tommy disfarçado de Gandhi, em posição de lótus e empenhado num fulgurante número de levitação. O homem anda encerrado numa gigantesca bola de vidro, com uma árvore, claro está, rumando aos confins do espaço sideral.
Os três planos de realidade vão evoluindo em contraponto até à morte da esposa amada do sofrido cientista. Este trata de plantar uma semente da árvore miraculosa sobre a campa da senhora, presumindo-se que a árvore que acompanhava a sua encarnação futurista tenha sido fruto desse belo acto. Depois, vemos o astronauta-rapaz-bolha quando ele por fim chega a uma estrela venerada pelos antigo Maias, mesmo a tempo de a ver rebentar; não me perguntem o que lá foi ele fazer ou como cabia ali a enorme árvore.
Confusos? Não é para menos.
“The Fountain” pretende ser uma intrincada meditação sobre o desejo de imortalidade e a forma sublime com que o Amor consegue ultrapassar todos os entraves, mesmo o derradeiro: a Morte. Assim uma espécie de “2001” em versão neo-hippie. Mas nada funciona como devia, com a notória excepção dos belissimos (e económicos) efeitos especiais e de uma contida
mise-en-scéne. A reflexão sobre a espiritualidade é risível; os actores limitam-se a esgares de perene sofrimento; o final, um clímax sinfónico de piroseira
new age, é quase acabrunhante; o entretecer de fios das diferentes narrativas é previsível, escasso e superficial.
Não sei se o filme já estreou por cá. Mas façam-se um favor e tratem de o perder.